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SIMBOLISMO
Rapper Emicida se inspirou em uma das obras simbolistas para compor a "sua" Ismália.
No dia 30 de outubro de 2019, o rapper paulista Emicida lançou o álbum “Amarelo”, uma das faixas do álbum é a música “Ismália feat Larissa Luz e Fernanda Montenegro”. A canção “Ismália” é inspirada no poema de mesmo nome, cujo o autor da poesia é Alphonsus de Guimaraens.
O poeta mineiro, Alphonsus de Guimaraens é parte do movimento literário denominado de Simbolismo. A Ismália de Alphonsus de Guimaraens, traduz o transtorno mental e comportamento suicida de uma mulher branca do início do século XIX, aparentemente motivado por fatores passionais. Tal interpretação ocorre devido ao significado do nome “Ismália” que no grego significa “desejo de amor”.
O racismo cria a Ismália para Emicida. Emicida ressignifica Ismália, transformando-a numa mulher negra do século XXI, ou melhor, Ismália para o rapper seria a personificação dos transtornos mentais ocasionados pelo racismo estrutural e como isso impacta na saúde mental da população negra. O racismo materializa-se nos índices de mortalidade da juventude negra (80 tiros te lembram que existe pele alva e pele alvo), no encarceramento em massa da população negra, na alta taxa de suicídio de jovens negros (levantamento do Ministério da Saúde e da UnB publicado em 2019). Todos esses marcadores demonstram que “ter pele escura é ser Ismália”. Portanto, ser Ismália está relacionado ao adoecimento físico e psíquico dos negros.
A sociedade cria símbolos que representam ideias.
O Simbolismo foi um movimento CULTURAL, inclui as artes plásticas, a literatura e o teatro. Surgido na França no final do século XIX, aproximadamente em 1880, o Simbolismo teve pouco espaço em função do avanço do Modernismo.
O SIMBOLISMO foi um movimento que surgiu na França, por volta do final do século XIX, em oposição ao Realismo e ao Naturalismo. Ele procura explorar as nuances da subjetividade, da espiritualidade e do imaginário, explorando tanto o mistério quanto o inconsciente.
Alguns pontos em destaque do Simbolismo:
1. Valorização do Subjetivismo: Diferente dos movimentos anteriores que prezavam pela objetividade, o Simbolismo buscava a introspecção e a subjetividade, fazendo uso de imagens e símbolos para expressar emoções e sensações.
2. Musicalidade: A linguagem simbólica é rica em aliterações, assonâncias e ritmos, conferindo uma musicalidade aos versos. A poesia desse período procura se aproximar da música, sendo que alguns poemas até se assemelham a partituras musicais.
3. Misticismo e Espiritualidade: Há uma busca pelo transcendental e muitos poemas simbolistas fazem referências a temas místicos e espirituais. Seus autores duvidavam da razão e da realidade concreta; por isso, buscavam, por meio dos sentidos, atingir o plano das essências.
4. Influência de Baudelaire (francês)
O Simbolismo utilizava uma variedade de símbolos para expressar temas complexos e abstratos. Alguns dos mais comuns incluem:
- A noite e a escuridão: O desconhecido e a introspecção.A lua: Símbolo de feminilidade, mutabilidade e sonho.A cor branca: Associada à pureza, espiritualidade e morteFlores e vegetação: Muitas vezes, flores como lírios e rosas, simbolizam a beleza efêmera, a pureza e a transitoriedade da vida.Esses símbolos ajudavam os escritores a criar uma atmosfera onírica e a explorar a profundidade dos sentimentos humanos.A água e o mar: Representam a fluidez, o inconsciente e o infinito.Cisne: Símbolo de pureza, transformação e beleza.Labirinto: Representa a complexidade da mente e da existência humana.Nevoeiro: Simboliza a confusão, o mistério e a barreira entre o real e o irreal.Rosas negras: Carregam a ideia de mistério, morte e beleza trágica.Sonho: Representa o desejo, o irreal e a busca por algo além do tangível.Espelho: Símbolo da introspecção, reflexão e dualidade da alma.Máscara: Usada para explorar a dissimulação e a complexidade da identidade.Torre: Simboliza isolamento, aspiração espiritual e introspecção profunda.Coruja: Associada à sabedoria, mistério e escuridão.Caverna: Reflete introspecção, mistério e o desconhecido.Véu: Simboliza o oculto, o espiritual e o que está além do visível.Coroa de espinhos: Representa sacrifício, sofrimento e redenção.Serpente: Símbolo de tentação, mistério e transformação.Estrela: Associada à orientação, esperança e transcendência.Névoa: Simboliza o mistério e a incerteza.Relógio: Representa a passagem do tempo e a impermanência.Túmulo: Símbolo de morte, reflexão e eternidade.Cristais: Associados à pureza, clareza e transcendência.Arcanjo: Símbolo de proteção, espiritualidade e poder divino.Sombra: Representa o lado oculto da mente e do subconsciente.Fogo: Símbolo de purificação, destruição e transformação.Pássaro: Geralmente associado à alma e à liberdade.Espinhos: Representam dor, sofrimento e superação.Abismo: Símbolo do desconhecido e do perigo interior.Eco: Simboliza a repetição e a lembrança persistente de algo perdido ou distante.Porta: Representa a transição entre diferentes estados de consciência ou realidade.Nuvens: Símbolo de mudanças, efemeridade e a conexão entre o céu e a terra.Pavão: Associado à vaidade, beleza e a alma.Espectro/Fantasma: Representa a presença do passado e as memórias que assombraMariposa: Representa a transformação, a alma e a atração pelo desconhecido.Rosa dourada: Símbolo de perfeição espiritual, raridade e transcendência.Gota de sangue: Significa sacrifício, vida e paixão intensa.Fonte: Representa a vida, a purificação e a origem.Flamejante: Simboliza o espírito ardente e a iluminação espiritual.Sombras: Representam o inconsciente, o oculto e o desconhecido.Porto: Símbolo de abrigo, segurança e chegada.Vitral: Reflete a luz divina e a complexidade da alma humana.Náufrago: Representa a perda, o desamparo e a busca por salvação.Pedra: Representa a permanência, o eterno e a resistência.Bruma: Símbolo de confusão, misticismo e o desconhecido.Cruz: Representa sacrifício, sofrimento e redenção.Flor-de-lis: Símbolo de pureza, renascimento e espiritualidade.Labareda: Associada ao espírito, à paixão e à transformação.Borboleta: Representa a transformação e a fragilidade da vida.Relâmpago: Símbolo de iluminação súbita e revelação divina.Cruz de Lorena: Significa fé, martírio e redenção.Gruta: Simboliza o útero, o mistério e a introspecção.Estátua: Representa imobilidade, eternidade e a perfeição idealizada.Vela: Símbolo da luz interior, da alma e da espiritualidade.Barco: Representa a jornada da vida e o destino incerto.Escada: Simboliza a ascensão espiritual e os desafios da vida.Moinho de vento: Símbolo da transformação e da força da natureza.Jardim: Representa o paraíso, a ordem divina e a harmonia.Trem: Símbolo da jornada da vida e do progresso inevitável.Corvo: Representa a morte, o presságio e a sabedoria oculta.Lago: Simboliza a calma interior e o reflexo da alma.Ruínas: Significam o passado, a memória e a decadência.relva: Representa frescor, renovação e a vida em sua forma simples.Relógio de Sol: Simboliza a passagem do tempo e a reflexão sobre a mortalidade.Torre de Marfim: Símbolo de isolamento intelectual e busca espiritual.Esfinge: Representa mistério, sabedoria e o enigma da vida.Rosas vermelhas: Significam paixão intensa e amor trágico..Flauta: Representa harmonia, espiritualidade e o chamado divino.Flauta: Representa harmonia, espiritualidade e o chamado divino.Palmeira: Símbolo de vitória, paz e resistência.Penhasco: Representa a extremidade, o risco e a introspecção.Pérola: Simboliza pureza, beleza oculta e sabedoria adquirida.Fênix: Símbolo de renascimento, resiliência e transformação.Ponte: Símbolo de transição, conexão entre mundos ou estados de consciência.Rosa Negra: Significa mistério, morte e beleza oculta.Vortex: Representa caos, transformação e poder natural.Árvore de Cipreste: Símbolo de luto, imortalidade e espiritualidade.Harpia: Símbolo de instintos primitivos e forças naturais indomáveis.cavalo. No Simbolismo, o cavalo é carregado de significados. Ele costuma simbolizar força, liberdade, poder e a energia vital. Sua figura pode evocar tanto o aspecto selvagem quanto o domesticado, representando a dualidade entre a natureza indomável e a civilização.
RESUMÃO
Falta de confiança na realidade, que seria ilusória;
Oposição ao objetivismo parnasiano e realista;
Valorização do não racional, ou seja, do mistério;
Apreço pelo não consciente, pelo espiritual e imaterial;
Crença na existência de um mundo ideal;
Relação entre o mundo visível e o mundo das essências (ou ideal);
Misticismo, sondagem do eu e valorização da intuição;
Musicalidade das palavras;
Alienação social;
Rigor formal: metrificação e rimas;
Visão contrária ao otimismo científico;
Destaque para o abstrato, o impalpável;
Uso de reticências para sugerir imprecisão;
Poder de sugestão, em oposição à objetividade;
Maiúscula alegorizante: palavra escrita com inicial maiúscula;
Estímulo dos sentidos humanos, a partir da sinestesia;
As palavras com maiúscula alegorizante e as sensações são símbolos capazes de levar o leitor a ter contato.
"E, finalmente, devemos apontar o rigor formal da poesia, metrificada e com rimas, e ressaltar que, segundo a perspectiva simbolista, não deveríamos analisar esse poema, já que essa é uma atitude racional, mas apenas nos entregar às sensações que ele provoca, para, assim, atingirmos o plano das essências, que, segundo os simbolistas, é a verdadeira realidade, pois, no plano concreto, vivemos uma ilusão apenas."
Principais Representantes no Brasil
No Brasil, os principais escritores simbolistas foram:
- Cruz e Souza (1861-1898)
- Alphonsus de Guimaraens (1870-1921)
- Augusto dos Anjos (1884-1914)
Os principais temas explorados são o amor, a loucura, o sonho, a mente humana, a dor, a morte, dentre outros.No Brasil, o Simbolismo tem início em 1893, com a publicação das obras “Missal” (prosa) e “Broquéis” (poesia), de Cruz e Souza.
- Aliteração: caracterizada pela repetição de consoantes ou de sílabas.
- Assonância: caracterizada pela repetição de vogais.
- Onomatopeia: caracterizada pela inserção dos sons reais.
- Sinestesia: caracterizada pela combinação de diferentes sensações relacionadas com o sistema sensorial (visão, olfato, paladar, audição e o tato).
UM DIÁLOGO ENTRE ÍCARO, EMICIDA E ISMÁLIA
Alguns dos muitos dados presentes na internet, em fontes seguras, mostram que 66,7% da população carcerária brasileira em 2019 era negra (FBSP) e 78% dos mortos pela policia eram negros. Esses dados são uma justificativa muito importante para trazer esse debate à tona nas linguagens artísticas, em razão das linguagens artísticas acabarem sendo a válvula de escape da comunidade negra, é como se fosse o lugar em que eles se humanizam diante de um sistema que os desumaniza.
“O principal modo de se expressar desses sujeitos periféricos está na fala, por isso a importância de se perceber a oralidade como propulsora da produção e transmissão de conhecimentos e da história não-oficial, cujos relatos podemos encontrar no RAP, pois é sua poética que vai trazer a humanização desse sujeito” (MELLO; PINTO, 2020, p. 108)
“A chegada de produtos culturais como o rap de Childish Gambino, em 2018, com “This is América” nos Estados Unidos e “Crime Bárbaro” de Rincon Sapiência no Brasil, demonstram que, cada vez mais, surge por parte da juventude o desejo de se discutir sobre o racismo na sociedade.” (SANTOS; CORAÇÃO, 2021 p. 368)
Diante de toda essa violência que está aumentando contra a população negra, também há uma resistência, há uma resposta da comunidade negra, principalmente dentro da arte. Sendo assim, aqui estará presente a canção “Ismália” de Emicida e o poema “Ismália” de Alphonsus Guimaraens, além do mito grego de Ícaro.
A perspectiva do voo em ambas as obras pode ser visto como alçar o inalcançável, como a desestabilidade como ponto de partida e a queda. Além dessa perspectiva, também será abordado o racismo, que é o ponto chave desse artigo, que é identificado como estrutura de dominação, como estereótipos do enlouquecimento e da personificação do negro como Ícaro e como Ismália.
Ícaro é filho de Dédalo, que era um arquiteto. Dédalo, junto ao seu filho foram condenados a viverem para sempre na ilha de Creta, porque Dédalo havia matado seu sobrinho por inveja. Dédalo, arquiteto, criativo, inventor, não queria que seu filho Ícaro vivesse preso naquele lugar para sempre, queria que ele visse o mundo, conhecesse outros lugares, alçasse voo. Pois então, Dédalo construiu para Ícaro um par de asas com madeira, cera de abelha e pena, e aconselhou ao filho para não voar muito baixo porque as penas poderiam molhar nas águas do mar e ele cair, mas também para não se aproximar do sol, porque o calor poderia derreter a cera e fazer com que ele caísse.
Ícaro, quando consegue fugir, se vê apaixonado pelo que vê, e então começa a voar cada vez mais alto e acaba por esquecer o conselho do pai, as asas derretem, Ícaro cai e morre. É interessante pensar a queda como símbolo de uma das mais antigas angústias do homem, o medo da queda, o medo da derrota. Ao passo que temos o voo como alcançar alguma coisa, ultrapassar, ascender na vida, já que na mitologia os únicos que voavam eram os deuses.
Já o poema “Ismália”, que tem o mesmo nome da música de Emicida, foi escrito pelo poeta brasileiro Alphonsus de Guimaraens, temos logo no começo “quando Ismália enlouqueceu”, já há uma ideia de que o poema gira em torno da loucura de Ismália. Ismália se perde em sua loucura e quer duas coisas ao mesmo tempo que são opostas uma da outra, e são impossíveis de alcançar em vida: ela quer o céu, ao mesmo tempo que ela quer o mar, veja:
“Queria subir ao céu
Queria descer ao mar”
E é na morte, quando ela se lança da torre, que ela encontra o que sempre almejou: sua alma sobe e seu corpo desce e ela tem finalmente as duas coisas que não teria em vida. Esse paradoxo é o tema central deste poema. É interessante observar, tanto no mito da antiguidade clássica de Ícaro quanto no poema simbolista de Alphonsus de Guimaraens, o que se quer e o que se tem.
“Assim, uma figura enlouquecida, do alto da torre, insulada em distâncias e exclusões, contemplando eminências de abismos, sonha. Do alto da torre, desejos se duplicam, dividem-se e o desvario em canto deságua em duplo impacto: um, em levitação, busca a lua (liberação e repouso); outro, em queda, afunda se no mar, afoga-se (pesadelo e aprisionamento).” (RICIERI, 2003, p. 197)
Essa questão do abismo é referenciada nos primeiros versos da estrofe da música de Emicida:
“Ela quis ser chamada de morena
Que isso camufla o abismo entre si e a humanidade plena”
Aqui já é possível identificar o abismo que há na obra de Alphonsus de Guimaraens como aquele abismo entre liberdade e aprisionamento que Emicida cita: o processo de embranquecimento de uma população negra não retinta, visto que ser chamada de morena, até pouco tempo atrás, camuflava esse abismo entre as pessoas não-brancas e os brancos. Isso também é visto no mito de Ícaro nas águas do mar e no sol, que poderia derreter suas asas. Esse alçar voo, na mitologia, era algo muito arriscado, visto que só os deuses o poderiam fazer. É possível comparar esse abismo como céu versus queda, num sentido de deuses versus não deuses, e trazendo para esse cenário de racismo como uma comparação entre os brancos, que são tidos como endeusados, como superiores, dominadores de uma sociedade e toda uma população racializada em queda, próxima do chão, perto do aprisionamento que a gente percebe em “Ismália”.
Em “Ismália” poema, vemos que ela só alcança aquilo que queria quando se suicida, porque o corpo vai para o mar, mas a alma vai para o céu. Podemos trazer essa alusão na questão dos corpos negros como quando se alça esse voo e acaba caindo, ou seja, quando corpos negros são violentados, mortos, Somente quando há a queda é que há a visibilidade, que passam em jornais, na televisão, nos Trending Topics do Twitter. Na música de Emicida, podemos ver isso em “Hashtags #PretoNoTopo, bravo!
Com isso, podemos identificar que só há o alcance dessa voz que os negros não possuem quando há a queda, ficando o paradoxo de só ter voz após a morte, só alçar voo depois da queda, ou melhor, como Emicida diz:
“No fim das conta é tudo Ismália (…)
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
Ter pele escura é ser Ismália”
Porque parece que todos os esforços que a comunidade negra possa fazer em vida para alcançar espaços, para serem valorizados como pessoas, para mostrarem a sua cultura, viverem as suas religiões, toda vez que há esses esforços nada chega a esse céu de Ismália. Então, parece que somente na queda é que emerge essa discussão, essa voz da população negra.
Emicida enquanto pessoa negra e eu-lírico da canção, se coloca nesses lugares, mas também como toda a população negra. Tanto Ícaro quanto Ismália quiseram voar para alcançar algo e caíram, e é aí que Emicida se coloca em comparação a eles. Ou seja, um negro quando almeja lugares mais altos sempre vai ser tombado, seja porque ele vai ser atingido por um sistema racista, que domina a situação e que acaba por impedir seu voo, seja ser visto como louco: Ismália enlouqueceu, Ícaro não foi inteligente o bastante; é como se o sistema causasse essa desestabilidade emocional nas pessoas para que o negro não saia da torre de Ismália, para que não saia do labirinto de Ícaro.
REFERÊNCIAS
RICIERI, Francine Fernandes Weiss. As várias formas de Ismália: espelhamentos, tensões, poéticas. Manuscrita: Revista de Critica Genetica, n, 11, 2002
SANTOS, Solange Stéfane; CORAÇÃO, Claúdio. A correria como forma de resistencia negra em videoclipes do rap brasileiro. Periferia, v. 13, n. 1, p, 363-386, 2021.
GUIMARAENS, Alphonsus de. Ismália. In. Melhores poemas de Alphonsus de Guimaraens / seleção de Alphonsus de Guimaraens Filho. 4 ed. São Paulo: Editora Gloral, 2001.
ISMÁLIA. Direção: Emicida. Intérprete: Emicida. Letras [s. n.] 2019.
PINTO, Cecília Augusta Vieira; MELLO, Carla Cristiane. A Linguagem do RAP como Resistência à(s) Norma(s). Porto das Letras, v.6, n.1, p-93-113, 2020.
"Ismália" do Emicida está repleta de figuras
de linguagem que enriquecem a
letra da música. A canção é uma releitura
criativa e moderna do
poema de Alphonsus de Guimaraens,
trazendo à tona
temas de identidade, opressão
e busca por liberdade.
Metáfora: Metáforas são utilizadas para criar imagens poéticas e transmitir emoções complexas.
Emicida emprega metáforas para expressar a luta e o sofrimento do personagem.
Por exemplo, ele pode usar a frase "ela quis tocar o céu, mas acabou no chão", para comparar os sonhos inalcançáveis do personagem com a dura realidade que enfrenta.
O paradoxo ou oxímoro, é uma figura de linguagem, mais precisamente uma figura de pensamento, baseada na contradição.
Muitas vezes, o paradoxo pode apresentar uma expressão absurda e aparentemente sem nexo, entretanto, ele expõe uma ideia coerente e fundamentada na verdade.
Por isso, o paradoxo é fundamentado na contradição lógica das ideias, como se tivéssemos duas ideias numa frase, e uma está se contrapondo à outra. No entanto, a contraposição dos termos utilizados cria uma ideia lógica.
Daniela Diana
Para entender melhor essa figura de pensamento, observe as frases abaixo:
- Se você quiser me prender, vai ter que saber me soltar. (Caetano Veloso)
- Já estou cheio de me sentir vazio. (Renato Russo)
- A novidade que seria um sonho/O milagre risonho da sereia/virava um pesadelo tão medonho. (Gilberto Gil)
- Embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu. (Sarah Westphal)
- O amor é ferida que dói e não se sente. (Luís Vaz de Camões)
- Sendo a sua liberdade/Era a sua escravidão. (Vinicius de Moraes)
- Bastou ouvir o teu silêncio para chorar de saudades. (Reinaldo Dias)
- Estou cego e vejo/Arranco os olhos e vejo. (Carlos Drummond de Andrade)
- Eu fujo ou não sei não, mas é tão duro este infinito espaço ultra fechado. (Carlos Drummond de Andrade)
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